Bomarzo e o parque dos monstros

"Voi che pel mondo gite errando, vaghi
 di veder maraviglie alte et stupende,
venite qua, dove son faccie horrende
elefanti, leoni, orsi e draghi"

Os versos acima recebem os visitantes no Sacro Bosco, criado pelo príncipe Vicino Orsini na metade dos anos 1500. O "bosque sagrado" era um lugar onde "damas e paladinos" poderiam ir à busca daquilo que mais desejavam e vagarem até perderem-se. Orsini populou o seu bosque de cervos, tartarugas, obeliscos, ninfas e diversas estátuas gigantescas. Junto das esculturas espalhadas pelo bosque, estão pequenos versos como o acima. Esta na verdade é mais uma villa, como aquelas que visitamos em Tivoli, tanto que era também conhecida como La Villa delle Meraviglie.

Depois da morte de Orsini, ninguém cuidou do seu bosque artístico e, após séculos de abandono, foi salvado e aberto à visitação, porém com as óbvias marcas do tempo. Hoje em dia é conhecido como Parco dei Mostri: as "maravilhas" se tornaram "monstros".

A visita começa antes mesmo de entrar no bosque sagrado, passando por um parque com mais natureza e sem as estátuas:

Essa cidade no fundo é Bomarzo, a sede do bosque.

Agora sim estamos entrando no bosque sagrado:

O primeiro monstro era o Proteo Glauco:

Proteu era uma divindade marinha da mitologia grega, que tinha a habilidade de mudar de forma a todo momento. Podia ter mudado pra uma coisa mais bonita, então...

Mais adiante, a Equidna com um par de leões:

Equidna era outra criatura da mitologia grega, que tinha tronco de mulher e cauda de serpente no lugar das pernas. À frente dela está a Furia, um demônio do mundo infernal de crenças primitivas:

Logo adiante, aparece o emblema da família Orsini (ursinhos, em italiano), que é um par de ursos, um deles segurando a rosa romana e o outro o brasão da família.

Na extremidade oposta está Proserpina, a versão romana da deusa grega Perséfone:

Continuemos o nosso passeio. Descendo uma escadas, encontramos Hércules derrotando o gigante e monstruoso Caco:

Não parece tão gigante quanto o próprio Hércules!


E logo depois encontramos uma tartaruga gigante, e sobre ela uma mulher:

De frente pra tartaruga, uma baleia:

Próximo a esse duelo de gigantes, está a Fontana di Pegaso:

Com certezas eram muito mais belas essas esculturas, mas o tempo e o abandono deixaram elas desse jeito. O seguinte monumento:

que mais parece uma banheira, na verdade é outra fontana, a fonte dos golfinhos. Golfinhos? Pois é, com um pouco de criatividade dá pra encontrar eles...


Uma das mais interessantes estruturas do bosque é a casa pendente:

E melhor, a casa é visitável!

E é uma viagem entrar e caminhar na casa. Dá uma sensação engraçada...

Bom, continuemos o nosso passeio e vamos a Ceres, a deusa romana da agricultura que, como narra um mito, difundiu o cultivo de trigo no ocidente:

Ali perto fica o elefante:

Representa um elefante de batalha, trazendo entre as presas um soldado inimigo.

A próxima estátua é o deus do mar Netuno, ou o deus dos mortos, Plutão. A questão é que não se sabe bem qual dos dois que é...

Esse bicho do lado é um monstro marinho, dizem que é um golfinho, o que deixa o placar no 1 a 0 pra Netuno. Na verdade no site do bosque nem menciona Plutão: 2 a 0.


O próximo é um dragão, lutando contra um urso, um cão e um lobo:

O monstro mais interessante e popular do bosque é o ogro:

Dá pra entrar dentro da boca dele, tem até uma mesinha lá pra fazer um lanchinho...

Nos lábios do ogro se lê "ogni pensiero vola", mas esse não é o texto original. Na verdade o texto era  "lasciate ogni pensiero voi ch'intrate", comparando a boca do ogro à porta do inferno de Dante.

Paciência, gente... O passeio tá quase no fim. Mas o bosque é grande, hein?

Logo ali, um banco etrusco. Acima dele, os versos que abriram este post:

E mais um monstro: cerberus, o cão com três cabeças que guardava a entrada do inferno.

Foi fichinha amansar a fera... Querido, ele gosta de um carinho!

Já no final do parque (ufa!) um pequeno templo:

Esse templo foi consturído 20 anos após o bosque ser terminado, em homenagem à falecida segunda esposa de Vicino Orsini.

É isso, pessoal. Espero que  tenham gostado! Esse foi o nosso último passeio com o Marco e a Mana. Depois disso ainda fomos devolver o carro e curtir os últimos momentos da visita.