quarta-feira, 2 de maio de 2012

Soave com Adriano

Continuamos contando da nossa viagem pelo norte da Itália, com o Adriano Nóig. Confira o primeiro post da viagem aqui.

Em uma livraria de Treviso, o Adriano nos mostrou um livro de cidades menos conhecidas para se visitar na Itália. Olhamos então as cidades que poderíamos encaixar no nosso roteiro. Dentre elas, a que realmente achamos interessante foi Soave. Foi uma ótima escolha, ainda mais sendo no caminho de Verona a Padova e vindo bem a preencher um dia livre que tínhamos.

Soave tem um castelo na sua parte mais alta, e dele parte uma bela muralha cercando toda a cidade. Como normalmente não se pode andar de carro dentro dessas cidades (fora seus habitantes), estacionamos do lado de fora da muralha. Essa é uma das portas de entrada:


A cidade é pequena e tranquila, a foto seguinte tiramos logo após entrar pela porta:


Caminhando pelas ruas descobrimos uma das especialidades da cidade: o pão de Soave (na foto, o branco, à direita):


Entramos na padaria dessa vitrine e perguntamos como era esse pão. O padeiro, contente com o nosso interesse, explicou todas as particularidades desse pão. Primeiro de tudo, esse é um pão que fermenta sem fermento! Ele é feito juntando 5 misturas diferentes e fermenta naturalmente por três dias. Mas fermentar naturalmente não é simplesmente deixar ele num canto por três dias e depois vender. É um processo em que se controla a temperatura e a umidade, fazendo com que ele cresça sem o uso de fermento biológico.

Como o pão fermenta por três dias, ele também tem uma duração prolongada. O padeiro nos explicou que quanto mais rápida a fermentação, mais rápido ele estraga. Além disso, a fermentação longa faz com que ele seja de alta digeribilidade e friável (se quebra facilmente).


Compramos um pão então para experimentarmos. E realmente ele quebra fácil, parece um biscoito.


Seguindo nosso passeio pelo cidade, esse é o Palazzo di giustizia, que agora hospeda uma enoteca no térreo (o vinho de Soave é muito conhecido na Itália - mas não é suave, é seco):


A gente olhou de frente e já achou que era uma igreja...

Depois de andarmos mais, descobrimos que se pode sim andar de carro pela cidade e que, melhor, dá pra ir pro castelo de carro (já enfrentamos algumas subidas a pé nessa viagem...). Então pegamos o carro e fomos lá visitar o castelo.



Entramos por uma porta que dava pra uma espécie de jardim, cheio de coelhos. Ali junto tinha uma casa, que funciona como administração do castelo. Tocamos a campainha (para comprar os ingressos) e veio uma senhora nos atender. Ela nos vendeu os ingressos e disse para esperarmos na entrada principal, que estava fechada: éramos os primeiros visitantes do dia.

Então apareceu a mulher com um molho de chaves gigantes pra abrir aquela baita porta. A nosso pedido, o próprio Adriano que abriu o castelo!


Ela nos contou um pouco da história do castelo. Primeiro ela explicou que na idade média, castelos desse tipo eram construídos com uma muralha para servir de proteção para toda uma cidade. Os habitantes pagavam aos senhores do castelo tributos para morarem no perímetro das muralhas e terem a segurança garantida.

Ela explicou também que, por serem fortificações bem seguras, as principais formas de conquistar o castelo eram três: através da traição, com alguém conhecido lá dentro; através do isolamento, fazendo  todos morrerem de fome; ou disseminando pragas, por exemplo jogando cadáveres da guerra dentro do castelo.

Esse castelo ficou por muito tempo abandonado, sendo depois comprado pela família Della Scala (ou Scaligeri), de Verona. Por isso é conhecido como o castelo Scaligero de Soave. Essa família restaurou o castelo e pôs alguns móveis de época, para depois abrir ao público.

Logo ao entrar no pátio do castelo, vemos as ruínas de uma igreja:


Como em muitas restaurações, a parte restaurada é diferenciada da parte original. Dá pra ver nas fotos os dois tipos de pedras:



Passando o primeiro pátio, chegamos a outra parte aberta, mas que provavelmente eram salas do castelo. E aqui vemos a torre principal do castelo, chamada mastio


A guia nos explicou que em geral essa torre, por ser a parte mais segura do castelo, é onde ficam os aposentos dos senhores. Mas não era o caso. Essa torre era utilizada para tortura e prisão! E, depois de torturados, os coitados eram jogados num fosso, nessa base da torre. E como subia um cheiro horrível dos corpos empilhados, eles jogavam cal virgem.

Quando o castelo foi restaurado, abriram essa "portinha" e encontraram dois metros de ossos empilhados!!


Dá pra entrar lá dentro e imaginar as pessoas sendo jogadas vivas lá de cima. Ui!


Mas antigamente não tinha essa saída:


A guia observou a falta de higiene na época, pois logo ao lado da torre ficava o poço do castelo.


Gostamos que a restauração deixou umas partes bem inteiraças. Pudemos visitar algumas salas do castelo, que foram restauradas e mobiliadas. Mas não se pode tirar fotos.


Este é o escudo da família Della Scala, (nada mais óbvio que uma escada):


O mastio de novo:


Depois subimos e fizemos parte do caminho de ronda.




Pudemos também entrar na torre principal, o mastio.


Primeiro subimos na parte mais alta da torre. De lá se enxerga tudo, dá até pra ver a muralha da cidade.




Depois descemos na sala de tortura e podemos enxergar o fosso de cima.

Gostamos muito desse castelo, foi um passeio bem legal, e com uma história bem interessante.


Bem, depois de Soave fomos pra Padova, até o próximo post.

Um comentário:

  1. O pão de Soave quebrava com a facilidade de uma rocha! Gostamos tanto que sobrou um pedaço no carro até o fim da viagem...
    O castelo foi mesmo um dos pontos altos (literalmente) do passeio.

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